Desde a publicação da matéria do portal D24AM, em que o diretor-presidente, do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Leonel Feitoza, disse que a capital amazonense tem um clima diferenciado e ir trabalhar de bicicleta no calor de 40 graus é complicado, a presença de comentários de autoridades que descartam a utilização da bicicleta para a melhoria no trânsito ou como uma forma de locomoção tem estado mais presente nas redes de comunicação (Mídias Digitais).

Além do diretor presidente do Detran, tivemos o comentário do subsecretário de comunicação da Prefeitura de Manaus, Mário Adolfo Filho, que no twitter comentou a seguinte frase. “Esse negócio de andar de bicicleta é hipocrisia. Quem de vocês quer andar de bicicleta em Manaus entre 10h e 16h nesse calor? Me digam aí!”.

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A maneira de entender e absorver a utilização da bicicleta como meio de transporte dessas pessoas públicas é preocupante, pois não há diálogo com a boa classe que defende o uso da “magrela” e a situação mostra que são pessoas totalmente desinformadas e que não tem um compromisso sério tanto com o cargo em que exercem como com a própria sociedade.

Tanto no horário de maior fluxo de carro como também em outros horários é possível observar que Manaus não tem mais alternativas de fuga para chegar ao destino desejado, sem que se passe por pelo menos algum engarrafamento.

 Os órgãos de planejamento urbano visam apenas as construções de viadutos ou abertura de novas vias e pouco investem em alternativas. Ano passsado a Prefeitura de Manaus informou que ganharíamos uma ciclovia que ligaria o Boulevard Álvaro Maia, Zona Centro-Sul, até a Ponta Negra, Zona Oeste de Manaus. Quem passa pelo local, pode observar que o a obra não passa de uma reforma da calçada central do Boulevard. A prefeitura através do Manaustrans também lançou um projeto de compartilhamento de vias, mas já se passaram dois meses e o projeto, lançado com pompas e honras, não saiu do papel.

O mundo tem avançado muito na discussão de alternativas para mobilidade de pessoas nos grandes centros urbanos. A partir da edição da Lei nº 12.587/12, conhecida como Lei da Mobilidade Urbana, o Brasil também deu um grande passo nesse sentido ao reconhecer como prioritários os meios de transporte de massa e a propulsão humana. Algumas cidades já caminham a passos largos no sentido de cumprir a Lei e de transformar os espaços públicos em locais de uso comum, acessíveis a todos de forma igual.

Infelizmente, Manaus está longe de viver essa realidade, a julgar pela mentalidade tupiniquim e visão retrógrada de alguns gestores públicos, que pautam sua administração a partir de suas próprias impressões pessoais, desprezando a visão extensionista que deve ser inerente ao homem público, o qual deve por obrigação do ofício, olhar a realidade à sua volta e a partir dela pautar suas ações e metas de governo. 10384826_954399771241590_5473595274514667812_n

Caro Leonel Feitoza, caro Mário Adolfo Filho, vocês provavelmente nunca sairão de suas casas e de seus gabinetes no horário das 10h às 16h debaixo do sol em cima de uma bicicleta, parte porque foram criados numa educação carrocentrista e provavelmente tiveram como prêmio pelos 18 anos completados um belo automóvel zero km. Só que os senhores esquecem que a sociedade muda, é dinâmica, as pessoas se informam, crescem e evoluem em seus pensamentos e comportamento, e cada vez mais tem se conscientizado e busca melhorias para si e para sua cidade.

Senhores, não pautem ou julguem a conduta dos demais cidadãos pelas suas. Não são apenas grupos de lazer ou de esporte que pedalam pela cidade. Os ciclistas da cidade não pedalam somente à noite. Há uma massa enorme de pessoas que todos os dias nas zonas mais periféricas da cidade se locomovem de bicicleta simplesmente porque não possuem outra forma de transporte. E mesmo que fosse apenas o primeiro grupo, este deveria ser respeitado e ter atenção por parte do poder público e seus dirigentes, coisa que infelizmente, não temos observado.

Em tempo. Na semana passada a Câmara Municipal de Manaus (CMM) rejeitou dois projetos de lei que beneficiariam os usuários de bicicleta. Dos projetos rejeitados estava a obrigatoriedade de shoppings, lojas, edifícios, condomínios, estacionamento e vias públicas terem entre 5% e 10% de vagas reservadas para bicicletas.

A outra rejeição foi realizada por meio da Comissão de Constituição e Justiça da CMM, que tratava sobre a instalação de suporte para bicicleta em ônibus coletivos, na parte dianteira ou traseira externa dos veículos, que tinha a finalidade de poder transportar uma bicicleta.

Vale lembrar que o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, ainda não sancionou o Projeto e Lei 218/203 que institui a bicicleta como modalidade de transporte regular na capital.