Para ‘pedaleiros’ acostumados a percursos como os 840 km do caminho de Santiago de Compostela, o pior é pedalar em Manaus.

ANA CÉLIA OSSAME

[A Crítica – 28 de Julho de 2012]

A noite manauense é amiga dos apaixonados pelas “magrelas”. Eles se reunem e saem pedalando pela cidade (Odair Leal)

Não há fronteiras para as bicicletas. A tese é parte de um sonho de ciclistas, como a advogada Marlúcia Almeida, 43, a dentista Beatriz Dantas, 24, o coordenador de Bike Juliano Macanoni, e o empresário Eduardo Jorge de Lima, 58, por um motivo simples. Todos adotaram, há algum tempo, a prática de pedalar, seja para o lazer, para participar de eventos competitivos ou fazer viagens internacionais pedalando as famosas ‘magrelas’.

Enquanto nos percursos em estradas de barro os desafios são trilhas irregulares, encostas e riachos, na cidade, além de enfrentar motoristas de ônibus e micro-ônibus mal educados e agressivos, eles têm que superar a falta espaços nas vias que, às vezes têm tantos buracos que se transformam em experiências perigosas.

“Sem nenhuma ciclovia, pedalar em Manaus é um desafio que só a paixão por esse esporte justifica”, diz Marlúcia. Ela começou com o movimento denominado Pedala Manaus, criado há cerca de dois anos por um grupo de amigos, que aos poucos foi se ampliando e se multiplicou.

Filhos do ‘Pedala’
Marlúcia e dezenas de outros grupos deixaram de participar do Pedala Manaus em busca de percursos mais longos, como Santiago de Compostela, na Espanha, onde pedalou, com um grupo de quatro pessoas, por 15 dias, percorrendo 840 quilômetros. Ela também já foi a Santa Elena de Uairém, na Venezuela, onde participou de um campeonato de bike. Neste domingo, (29), estará no Rio de Janeiro, levando a bike a “tiracolo” onde participa do mundial aberto para ciclistas amadores.

Com tanta bagagem, acostumada a pedalar em asfalto e barro, a subir e descer ladeiras e barrancos, não seria de esperar que ela vencesse facilmente as barreiras impostas por uma cidade hostil aos ciclistas? Não é bem assim. Marlúcia diz que, no asfalto da cidade, além das ruas extremamente irregulares, os motoristas de ônibus e micro-ônibus, principalmente, os têm como inimigos.

Aos que querem se aventurar nas magrelas, uma dica é participar do grupo, às terças e quintas-feiras, no Parque dos Bilhares, no bairro Chapada, Zona Centro-Sul de Manaus, onde ciclistas do Pedala Manaus treinam os iniciantes nessa prática, que costuma apaixonar, de primeira, os pedaleiros.

Projetos
“Pedalar, para mim, é a sensação máxima de liberdade que um ser humano é capaz de sentir. A pedalada transforma a vida de forma mágica, seja na cidade ou nas trilhas. Você se transtorma numa pessoa melhor em todos os aspectos. Temos todos os elementos para o desenvolvimento do esporte de forma consistente e duradoura, com eventos elaborados, trilhas organizadas, passeios para iniciantes, campeonatos de mountain bike, expedições e escolinhas, workshops, mas pedalar na cidade ainda é perigoso”, declara o coordenador do Grupo Jungle Bike, Juliano Macanoni, 35.

Segundo ele, alguns projetos do Pedala Manaus em parceria com outros grupo de bike e a prefeitura estão mudando esse cenário.

“Muitos motoristas já estão entendendo que a bicicleta também é um veículo e que tem direitos nas vias, assim como os carros”, destaca.

Nas estradas
O empresário Eduardo Jorge de Lima, 58, e Cláudia Valente, 45, compõem o grupo que percorre a cidade de bicicletaa às quintas-feiras e, pedalando, vão aos municípios do Rio Preto da Eva (a 80 quilômetros de Manaus), e comunidades como Cacau-Pirêra, Açutuba e Paricatuba, no município de Iranduba (a 25 quilômetros da capital). As experiências das aventuras são, como eles dizem, inesquecíveis e memoráveis. Só pode saber quem participa, afirmam.

Cláudia não entende a agressividade dos motoristas de ônibus. “Somos carros a menos, eles deviam gostar da nossa iniciativa”, afirma ela, reclamando da falta de sinalização vertical e de campanhas visando orientar e informar os motoristas sobre os direitos dos ciclistas e a importância da atividade.