Por Ricardo Braga-Neto

[texto publicado no site O Eco Amazônia em 27.04.11]

Mobilidade urbana é um tema essencial na preparação das cidades sede para a Copa de 2014. Manaus será a porta de entrada da Amazônia, mas seu sistema viário precisa de mudanças estruturais urgentes. A cidade vive um momento preocupante, com congestionamentos frequentes, ônibus transbordando passageiros e em péssimas condições de manutenção. Uma alternativa eficiente e barata que pode contribuir para deixar o ambiente urbano mais sustentável é o uso da bicicleta como meio de transporte.

A bicicleta pode exercer um papel essencial para melhorar a mobilidade urbana, pois ocupa pouco espaço, não polui e é muito eficiente em deslocamentos curtos de até 15 km, contribuindo para reduzir o número de carros nas ruas e para desafogar a superlotação do transporte coletivo. Entretanto, como as condições atuais de circulação nas avenidas são muito perigosas, é imprescindível que governantes invistam em uma rede de ciclovias que garanta segurança e conforto aos seus usuários. Segundo Guilherme Borlido Silva, morador do bairro Flores, “infelizmente a única coisa que não nos permite usufruir mais de nossas bicicletas é o trânsito. Motoristas não respeitam ciclistas e não entendem que bicicleta também é um meio de transporte”.

Para defender e incentivar o uso da bicicleta na cidade, em 2010 nasceu o movimento Pedala Manaus, idealizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam). A ideia é agregar interessados e buscar o aproveitamento de recursos associados com a Copa para deixar benefícios permanentes na cidade. O movimento, que organiza pedaladas semanais, elaborou uma proposta a convite da própria prefeitura para planejar um sistema cicloviário. Ela contempla o diagnóstico dos ciclistas na cidade, o planejamento de rotas e a elaboração de um plano básico que interligará vários bairros com dezenas de quilômetros de ciclovias arborizadas. Segundo Fabrício Lima, Secretário Municipal de Desporto, Lazer e Juventude, a proposta está aprovada, embora os recursos ainda não tenham sido repassados ao Idesam.

A bicicleta não deve ser encarada de forma isolada. “Ciclovias podem apresentar-se como uma solução de curto a médio prazo, mas não se trata de uma solução única. Deve ser aliada a outras, como a melhoria do transporte coletivo integrado com a bicicleta”, ressalta Tahisa Kuck, arquiteta e urbanista que participou da elaboração da proposta. Será que os governantes perceberão a tempo que priorizar a bicicleta como meio de transporte em Manaus é um caminho óbvio para agregar sustentabilidade e qualidade de vida a seus cidadãos e visitantes? Se depender dos ativistas do Pedala Manaus, para garantir que a mensagem seja dita, a sociedade não vai esperar sentada, mas nas ruas da cidade – e pedalando.

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