Por Ricardo Braga-Neto

[texto publicado no site O Eco Amazônia em 24.05.11]

Pedalar é um verbo cada vez mais presente no vocabulário dos cidadãos manauaras, seja na cidade ou na floresta. Na semana passada aconteceu o ‘Amazon Live Jungle Bike’, uma prova de mountain bike realizada dentro de um fragmento florestal urbano no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS). O evento, organizado pela Federação de Ciclismo Amazonense em parceria com a empresa Oficina D’Arte, reuniu cerca de 100 ciclistas para pedalar várias voltas em um circuito de 5 km em trilhas fechadas com muita lama, raízes, buracos, charcos e pinguelas de madeira, características comuns na região.

“A ideia de criar uma prova de mountain bike nas trilhas da Amazônia já vinha crescendo há muito tempo. Como praticante do esporte sentia uma necessidade grande em competir em nossa cidade, na nossa floresta”, afirma Juliano Macanoni, um dos idealizadores do evento. A prova foi montada para permitir a participação de diferentes públicos, contou com categorias para profissionais, militares e ciclistas amadores, experientes e novatos. “Fiquei muito interessado em participar por causa da ótima estrutura, mas eu não tinha a pretensão de competir, queria pedalar na floresta”, confessa Mário Terra, ciclista amador que conquistou a prova na categoria ‘Novatos’.

Os ciclistas têm uma boa noção do impacto de suas escolhas sobre o meio ambiente e os organizadores sabem disso muito bem. “Toda a emissão de carbono associada ao evento será neutralizada em um plantio de mudas nativas”, afirma Macanoni. Sabe-se que a bicicleta tem um papel decisivo para melhorar a mobilidade urbana, mas sua contribuição pode ser ainda mais abrangente para a qualidade ambiental. O sucesso do evento sugere que o interesse em pedalar na floresta pode criar estímulos para que fragmentos florestais venham a ser preservados pelo valor que tem para o lazer e bem-estar das pessoas, valendo mais em pé que no chão.

Embora grande parte da cobertura florestal de Manaus tenha sido retirada, ainda existem remanescentes importantes na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ao longo do igarapé do Mindu, na zona Leste e no bairro Tarumã. Durante o evento, os ciclistas apoiaram com legitimidade a manifestação da coalizão SOS Florestas contra as alterações no Código Florestal, pois as mudanças propostas para as Áreas de Preservação Permanentes (APPs) como topos de morros e margens de igarapés podem intensificar a degradação dos remanescentes florestais urbanos. Felizmente, a perspectiva de agregar valor à floresta em pé pela bicicleta não vai ficar apenas no papel, pois já se planeja tornar público o acesso ao percurso construído, que servirá como uma trilha ecológica para a sociedade. Fica o legado e o precedente de transformar uma área verde em qualidade de vida.

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