O momento pelo qual a bicicleta atravessa vem suscitando protestos, discussões e propostas da sociedade civil e poder público.

 

O brutal atropelamento do Sr. Simão Antônio, no dia 21 de maio evidenciando, por meio das imagens de câmeras de segurança, por um lado a vulnerabilidade de quem pedala na cidade de Manaus e por outro, a irresponsabilidade e desrespeito de alguns motoristas, vêm suscitando protestos, discussões e propostas da sociedade civil e poderes executivo e legislativo.

Vivenciamos, portanto, um momento muito interessante para os ciclistas, que hoje dividem opiniões, sendo compreendidos por alguns como necessitando de cuidado e respeito e por outros como “inimigos no trânsito”.

Convém ressaltar que ser ciclista é um estado, uma função momentânea dentre as demais que ocupamos diariamente. O cidadão que pedala também pode ser pedestre, usuário do transporte público, motociclista ou motorista. É, assim, um cidadão comum e não é um ser diferenciado,  que vive num mundo também diferenciado e que vem à cidade apenas para perturbar a ordem pública.

Dentre as propostas apresentadas tivemos a do vereador Jaildo dos Rodoviários que em entrevista numa rádio afirmou que iria sugerir à Prefeitura de Manaus um projeto de lei por meio do qual os ciclistas teriam horários pré-determinados para transitar na cidade.  Após a repercussão extremamente negativa de sua idéia, o vereador retirou o que havia dito, afirmando tratar-se de um mal entendido.

No último dia 02, a vereadora Therezinha Ruiz apresentou um projeto de lei que institui um curso de formação para ciclistas de 30 horas, com emissão de um certificado e carteira de ciclista, mediante aproveitamento e frequência de 75%. Em sua página numa rede social, a vereadora divulgou seu projeto de lei e após a repercussão negativa e dos comentários também negativos, o retirou e fez um novo post afirmando que o curso de formação não é obrigatório e que na próxima segunda-feira fará um aditivo em seu texto sobre a não obrigatoriedade do curso e o não condicionamento deste ao uso da bicicleta.

Vemos então a mesma situação se repetir. As propostas surgem sem o devido estudo da realidade, tornando-se, assim, rejeitadas pelos cidadãos usuários de bicicleta e são imediatamente retiradas ou refeitas com vistas a adaptar-se ao contexto manauara, hoje inegável, no qual as bicicletas estão nas ruas a qualquer momento e em qualquer bairro, fazem parte do trânsito e seus usuários vêm se conscientizando e mobilizando cada dia mais na busca de seu espaço.

A questão que enfatizamos aqui é por que numa situação em que fica evidente que em Manaus não temos a educação necessária para o compartilhamento das vias, a maioria das propostas advindas do legislativo recaem nos ciclistas, como se esses fossem os causadores do  tumulto no trânsito, ou quem sabe sendo responsáveis pelos acidentes sofridos e por suas mortes.

Por que não se vêem propostas que invistam na educação de todos os agentes do trânsito não importando se é motorista, ciclista ou pedestre?

Por que não aparecem vereadores, deputados ou representantes do poder público que se disponham a ouvir os cidadãos que pedalam, portanto seus eleitores em potencial, para desenvolver propostas em consonância com a realidade destes???

Ambas as propostas que aqui nos servem de exemplo, totalmente desconectadas da realidade cicloviária da cidade de Manaus, trazem a tona aquilo que o Pedala Manaus e outros movimentos sociais vêm insistindo há tempos. A necessidade de um diálogo aberto e franco entre os poderes e a sociedade civil. Não queremos “mandar” nos projetos de lei ou ações do poder público, mas temos consciência de que podemos ajudar muito, caso uma parceria seja possível.

Estamos aqui, como sempre, a disposição de quem queira dialogar, nos ouvir e considerar nossas contribuições.