Grupo de cilistas de Manaus – GUARIBIKES – descem da voadeira no Careiro da Várzea/AM e acessam a estrada do Cambixe para mais uma aventura – isso é Cicloturismo!

No amanhecer do dia sete de setembro, 28 ciclistas se encontraram no porto da CEASA para atravessar o “encontro das águas” e chegar à sede do município do Careiro da Várzea. Eram 7 da manhã, o sol já começava a arder. Os que não tomaram desejum em casa engoliam esfaimadamente a tradicional tapioca na banca de café na esquina. As crianças das escolas próximas, desfilavam o tradicional “7 de setembro”. E a fila de carros para atravessar até a BR-319, lembrava as filas da balsa do São Raimundo. Nenhuma saudade daquelas enfadonhas filas.

Após o embarque nada cuidadoso das magrelas pelos ajudantes do barco fretado, partimos rumo ao nascente. Havia um salutar clima de descontração e ansiedade durante a curta viagem, talvez provocados pelos rumores das imagens que eu divulgara do percurso. Acho que poucos conheciam o lugar.

Meia hora depois, atracamos no porto da “Vila”, como é mais conhecida a sede do município. Antes de desembarcarmos, vimos uma canoa carregada de combustível para abastecer, provavelmente algumas poucas motos, dois taxis e dois micro-ônibus escolares, já que não há posto de combustível na Vila. O acesso à sede município é feito somente por via fluvial (barco), cerca de 20 km de distância. São poucos moradores, segundo o último censo são aproximadamente 1000 habitantes.

Desembarcarmos na escadaria da Praça da Liberdade, onde se situa a igreja católica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira do Careiro da Várzea. Ao redor da praça encontramos ainda, um posto dos correios, um pequeno restaurante e lanchonetes. Não havia hotéis e nem hospedarias.

Alguns metros depois, já tínhamos pedalado o suficiente para sair da vila e acessar a estrada do Cambixe. Embora, coincidentemente, fosse o dia da independência, não estava o imperador Dom Pedro as margens do Ypiranga gritando: “Independência ou morte”. Éramos nós, ciclistas, as margem do Paraná do Cambixe gritando: Pedalem “Guaribikes”!!!

Logo nas primeiras reta, percebemos que a estrada do Cambixe com seus 11 km de comprimento é estreita e toda concretada, perfeita para pedalar. Os outros 10 km da estrada ainda não receberam tratamento algum, era só barro. Ideal para os aventureiros de montain bike.

Ao longo do percurso vimos poucas casas, algumas simples feitas de madeira com uma frugalidade franciscana; outras mais resistentes de alvenaria eram mais adornadas. Mas todas altas, com pelo menos um metro e meio de altura do solo, o que nada adiantou, pois as cheias deste ano chegou aos dois metros acima do nível mais alto da ilha do Careiro, justamente onde a Vila foi erguida.

O nome de “Careiro”, segundo os descendentes dos moradores mais antigos, deveu-se a um morador que vendia os seus produtos muito caro. O antropólogo Nunes Pereira em um estudo sobre a região datado na década de 1950, afirmou que ali viveu um comerciante que reputava os seus gêneros mais caros do que em qualquer outro lugar da ilha, tornando-se, por isto, centro de referência na região, ou seja, o “careiro”.

Os moradores da estrada do Cambixe quando nos viam, saudavam-nos com ar de surpresa. As crianças sempre alegres e tímidas se aproximavam para verem a novidade inesperada. Algumas pessoas apresentavam a pele, cabelos e olhos claros, bem distantes da fisionomia cabocla. Provavelmente, eram descendentes de cearenses como o “velho Lino”, um dos primeiros moradores da ilha.

As origens históricas do povoamento do Careiro remontam ao período da chegada dos primeiros imigrantes nordestinos ao Careiro da Várzea, por volta de 1889. Várias correntes migratórias oriundas do nordeste seco vieram para a Amazônia, viajando no vapor “Colombo” (de Acaraú e Camocim a São Luiz), no navio “Cabral” (de São Luiz a Manaus) e em 3 de abril de 1889, a lancha “Carlota” chegou ao Cambixe trazendo os nordestinos que foram assentados no Km 5 do paraná homônimo.

A principal atividade econômica da região é a pecuária (herança nordestina) com a criação de gado, búfalos, porcos, carneiros e aves. A agricultura de subsistência e a incipiente pesca são um complemento da atividade pecuarista. Nos quintais, víamos árvores frutíferas e “jiraus” cheios de verduras e legumes feitos com canoas “fora de serviço”.

A exuberância da fauna e a flora local é um expressivo exemplo da riqueza viva amazônica. Nos campos da várzea da região vimos espécies vegetais, como a sumaúma, aninga, munguba, juta e malva, entre outras espécies. Próximo às áreas alagáveis é constante a presença dos mergulhões, garças, marrecas, jaçanãs, maçaricos, saracuras, frangos dágua, gaivotas, gaviões e jacarés. De longe avistávamos as margens do enorme Lago do Rei, antigo “Pesqueiro Real”, local de despensa natural da coroa portuguesa.

Em quase todas as casas havia bicicletas simplesmente encostadas nas cercas das casas. Preocupação com o roubo? Acho que nenhuma! Quase todas as magrelas tinham visíveis marcadas pelo tempo. Algumas delas já deveriam ter rodado mais do que todas as nossas bicicletas juntas.

No retorno paramos para descansar e reidratar em um pequeno bar, fomos bem recebidos com a conhecida cordialidade cabocla. Depois seguimos de volta para o porto da Vila, já era quase meio dia. A fome e o calor imperavam, enquanto esperávamos o barco, alguns comiam e outros mergulhavam corajosamente nas correntezas do Solimões para se refrescarem. Meia hora depois estávamos em Manaus.

Esta é o nosso segundo passeio cicloturistico. Em breve faremos mais viagens para outros municípios amazonenses, através das nossas difíceis e desconhecidas vias, sejam elas de terra ou de água. Pois, se os carros não chegarem… Nossas bicicletas chegarão!

Valeu “Guaribikes”!!! Até Autazes e Nova Olinda do Norte, nossos próximos e hercúleos desafios!