O Fórum de Bicicletas Manaus cumpriu sua função social e demostrou que não há mais como ignorar a mudança promovida pelas bicicletas

O Movimento Pedala Manaus realizou a IV edição do Fórum de Bicicletas Manaus reunindo um público de ciclistas, não ciclistas, universitários e comunidade em geral que puderam vivenciar nos quatro dias do evento o que a sociedade organizada em parceria com a iniciativa privada e o poder público podem fazer em prol da cidade, em especial, pela ciclomobilidade.

O fórum deste ano teve como propósito fomentar a discussão acerca do que estes entes juntos podem continuar fazendo para propiciar melhores condições a quem opta por se locomover de forma ativa na cidade. Com painéis compostos de representantes do legislativo e executivo municipal local e de outra capital, do legislativo estadual, da academia, de empresas privadas que promovem ações em prol da bicicleta, além dos coletivos de várias partes do país, foi possível perceber que o caminho nem sempre é fácil, mas que as mudanças podem sim acontecer onde há conscientização popular, protagonismo social e a união entre as diferentes fontes de ação, quais sejam sociedade civil organizada, iniciativa privada e poder público, sendo este último o detentor da tão esperada vontade política.

“A bicicleta é uma fato”. Esta frase dita por um convidado em um dos painéis deu a tônica das discussões de todo o evento. Então “a bicicleta é um fato” e como tal é parte dos modais que existem em todas as cidades,  não sendo  uma questão de escolha, mas sim uma obrigação social, que o poder público desenvolva  políticas que melhorem as condições para os ciclistas urbanos, o que inclui sempre a díade educação de trânsito e infraestrutura cicloviária. Da mesma forma, a cidade como um todo tende a se adaptar a presença dos ciclistas urbanos e iniciativas que incentivem e acolham às bicicletas tendem a se multiplicar por Manaus. Ou seja, mais e mais bicicletas estão nas ruas e essa é a maior pressão que se pode fazer para que vejamos as mudanças almejadas.

A abertura do Fórum, no dia 27 de agosto, foi realizada ocupando um espaço aberto ao público no Parque Ponte dos Bilhares, localizado na região centro sul da cidade, que foi tomado por ciclistas e também contou com as presenças de autoridades locais e convidados de outros estados e a comunidade em geral. Após a abertura oficial, um minidocumentário produzido pelo Pedala Manaus foi exibido mostrando todo o encantamento que a bicicleta causa em quem a escolhe, emocionou os presentes que ainda terminaram a noite com a performance do excelente artista local Nicolas Junior, que deu o tom regional para a noite e para todo o fórum que prioriza sempre a adaptação daquilo que é pertinente à realidade manauara em relação a mobilidade humana.

O segundo dia, contou com uma descontraída Roda de Conversa promovida no Café Teatro no centro da cidade, local extremamente aprazível por sua arquitetura e história, que reuniu uma grande plateia de estudantes e ciclistas interessados em participar da discussão e entender qual a importância das iniciativas sociais na transformação das cidades. No bate papo, tivemos Celso Sakuraba da Ciclovida de Fortaleza e Alexandre Nascimento do Ir e Vir de Bike de Curitiba, falando das ações sociais que foram importantes para a promoção da ciclomobilidade em suas cidades, além da visão da socióloga Lucia Puga e da vereadora Therezinha Ruiz sobre a mobilidade urbana por bicicleta em Manaus. O Pedala Manaus ainda teve a honra de promover o lançamento do livro “Mais que um leão por dia” do próprio Alexandre que narra a aventura de cruzar a África de bicicleta e pra fechar a noite com chave de ouro, o Pedala Manaus foi agraciado com o  prêmio do Clube Educacional da Bicicleta da Federação Paranaense de Ciclismo em  reconhecimento pelas ações desenvolvidas em prol da ciclomobilidade na cidade de Manaus.

O dia 29, terceiro dia de Fórum, foi de variados painéis, contando com temáticas que foram das ações dos coletivos, às iniciativas privadas e ações e políticas do poder público. A participação e debate entre os convidados instigou o grande público presente, até então ansioso por informações de como a bicicleta poderia contribuir para o problema da mobilidade urbana. A curiosidade e a avidez por mais e mais conteúdos foram tantas que o auditório permaneceu lotado das 8h às 19h da noite, contando com uma participação significativa de todos os presentes.

Durante os  sucessivos painéis, experiências no tocante a ações para a mobilidade ativa foram relatadas em diferentes cidades brasileiras como Rio de Janeiro – Transporte Ativo, São Paulo – Ciclocidade, Belo Horizonte – BH em Ciclo e Manaus – Pedala Manaus. Cada processo teve seu percurso muito próprio, mas todos trazem como ponto comum o papel fundamental dos coletivos no sentido de preencher uma lacuna deixada pelas administrações municipais quanto a educação, sensibilização e conscientização do uso da bicicleta nas cidades como parte das alternativas para a crise da mobilidade urbana.

Zé Lobo da Transporte Ativo, exemplificou a ação dos coletivos  elencando os objetivos e estratégias, com exposição de ações efetivas providas para enaltecer o papel da bicicleta como modal de transporte ativo e sustentável, entre elas, zonas de acalmamento do tráfego, ciclorrotas, contagem de ciclistas e, inclusive, a elaboração e fomentação contínua de mapas cicloviários, ou seja, desenvolver ações que possam alimentar o poder público de dados e resultados que encurtem a execução de projetos cicloviários.

Ainda quanto a importância dos coletivos, Guilherme Tampieri, da Nossa BH, Bike Anjo e UCB, apresentou exemplos de demandas propositivas para a valorização da bicicleta na cidade de Belo Horizonte/BH, em especial a participação ativa em face do Poder Público local, que resultou em diversas experiências de questionamento e consulta de políticas voltadas à bicicleta. Também, citou experiências de sua residência em Paris, do ponto de vista de um cicloativista absorvendo conhecimento.

Percebeu-se que nas cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, nas quais o poder público se uniu aos coletivos, o quanto se pode progredir e de fato realizar mudanças estruturais para o maior uso das bicicletas. Tal situação foi muito bem ilustrada no painel em que estavam Suzana Nogueira, arquiteta e diretora da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo,  e Daniel Guth do coletivo paulistano Ciclocidade, que demonstraram a força dessa união na promoção das mudanças que hoje marcam a cidade de São Paulo.

Suzana expôs ainda sobre as políticas e mobilidade urbana na maior metrópole da América Latina, em especial sobre o programa cicloviário municipal. Elencando sobre as prioridades a serem adotadas para políticas públicas de mobilidade, tais como a priorização do pedestre, implantação de faixas exclusivas de ônibus e a construção de 400 km de ciclovias até dezembro de 2016, consolidando uma política de mobilidade urbana sustentável, democrática e inclusiva”.

Do ponto de vista da iniciativa privada vimos ações em universidades, nas quais estudantes de engenharia e arquitetura apresentaram projetos que objetivam fomentar o uso da bicicleta na cidade, o desenvolvimento de aplicativos que facilitem a contagem de ciclistas na cidade e que trariam dados com maior rapidez para que possamos reivindicar a implantação de ciclofaixas ou ciclovias justificadas por tais dados. Vimos ainda o depoimento de Alba Alencar da empresa de transportes urbanos Eucatur que foi pioneira em acolher o projeto Convivência Legal do Pedala Manaus que objetiva sensibilizar motoristas quanto ao papel dos ciclistas no trânsito de Manaus. Alba encerrou nos trazendo um dado fundamental e animador pra continuidade do projeto. “Após um ano do treinamento não houve nenhum caso de acidente envolvendo motoristas e ciclistas”.

Não podemos deixar de mencionar nossa frustação pela ausência do prefeito da cidade de Manaus, Artur Virgílio Neto, que mesmo tendo confirmado sua presença, não compareceu à mesa que comporia e enviou como substituto o Sr. Sildomar Abtibol, secretario de esportes do município. Tal fato levou o público presente a refletir sobre o papel dado à ciclomobilidade pelo poder público municipal.

No último dia de fórum, dia 30, uma descontraída roda de bate papo se formou no Hotel Go Inn com todos os convidados, ciclistas, estudantes e pessoas interessadas em debater mais o tema ciclomobilidade no café da manhã oferecido pelo Hotel.

Foram quatro de uma imersão ao tema bicicleta e o mais incrível, discutido com pessoas que em sua maioria não utilizam este modal por nenhum meio e que de lá saíram encantados com o que viram e ouviram. Foi extremamente satisfatório o resultado promovido neste espaço de troca de ideias e experiências, seja do ponto de vista do aprendizado, seja da ampliação do debate e aproximação ainda maior com a sociedade e o poder público.

O Pedala Manaus está certo de que o IV Fórum de Bicicletas Manaus cumpriu sua função social e de que mais espaços devem ser abertos ao debate da ciclomobilidade, assim como também não há mais como ignorar a mudança que já chegou e precisa ser recepcionada, desta vez pelo poder público, que precisa promover ações que integrem cada vez mais a bicicleta ao ordenamento urbano de modo a proporcionar ao cidadão que escolhe a bicicleta toda a segurança necessária a sua trafegabilidade.

Por fim, faz-se necessário ressaltar algo que foi fundamental para que o Fórum se tornasse realidade e acontecesse de forma adequada, sendo, por nós, considerado um sucesso. O Pedala Manaus contou com um grupo de voluntários e apoiadores que foi a força pra que essa ideia se tornasse real, pra que a ciclomobilidade em Manaus ganhasse voz e uma voz que só engrossa e ganha corpo. A cada um, que por acreditar no nosso trabalho e na necessidade de discutir a bicicleta enquanto realidade nos dedicou seu tempo e nos apoio, o nosso mais sincero obrigado.