Em sua segunda edição, o desafio intermodal de Manaus teve a bicicleta como o meio de transporte mais rápido durante horário de pico do trânsito, seguida pela moto, carro, pedestre e transporte coletivo.

O II Desafio Intermodal de Manaus consistiu em comparar o carro, moto, transporte coletivo, bicicleta e pedestre como modais de transporte urbano, avaliando o desempenho de cada um deles no trânsito cotidiano da cidade. Foram anotados o tempo do deslocamento da pessoa do ponto de origem ao destino, o custo em reais e a distância percorrida. Com esses dados, estimamos a emissão de poluentes dos veículos movidos a combustíveis fósseis. A largada foi dada às 18h15 no Largo São Sebastião em direção ao Parque dos Bilhares. Doze pessoas participaram do desafio em 2011, sendo duas de carro, uma de moto, uma de ônibus, seis de bicicleta e duas a pé. O tempo computado foi o deslocamento completo da pessoa e não do modal. Portanto, foi levado em conta o tempo que a pessoa levou até o local e o tempo que se perdeu para estacionar o veículo. Como o ciclista desmontado se equipara a um pedestre, o único veículo que não foi necessário estacionar foi a bicicleta.



Tempo de deslocamento

Os participantes que escolheram a bicicleta chegaram ao destino final entre 11 e 15 minutos depois da partida, percorrendo cerca de 4,2 km a uma média de 20 km/h, aproximadamente. Esse resultado foi superior ao desempenho da moto que em outras situações se destaca como o meio de transporte mais rápido na cidade. A moto teve um desempenho lento na hora do rush, fazendo um percurso de 4,3 km em 24 minutos, com média aproximada de 10,5 km/h. O carro foi o terceiro colocado, gastando entre 32 e 42 minutos para percorrer o caminho até o parque, com média de 6 a 8 km/h. Curiosamente, o modal pedestre foi o quarto colocado, ficando à frente do transporte coletivo. Os pedestres gastaram 42 minutos para sair do Largo São Sebastião e chegar ao Parque dos Bilhares, percorrendo 3,75 km a uma velocidade média de 5,3 km/h. Finalmente, o transporte coletivo, o modal que efetivamente é responsável pelo deslocamento da maior parte da população manauara, teve o pior desempenho nesse desafio. Foram gastos 43 minutos no total, tempo necessário para esperar o ônibus passar, percorrer os cerca de 4 km a uma média de 4,7 km/h, além de deixar o passageiro a uma distância considerável do ponto de destino.

Custo em reais

Quando comparamos o gasto de cada um dos modais percebemos uma coisa interessante: o modal mais caro foi o que teve o pior desempenho. O custo do transporte coletivo, no caso um ônibus executivo, foi de R$ 3,00 (muito acima dos R$ 2,25 cobrados nos ônibus convencionais, que já é um valor caríssimo frente à qualidade do transporte). Para o carro o custo variou de R$ 0,95 a 1,24, enquanto para a moto foi de R$ 0,41. A bicicleta e o pedestre não gastaram nada para se deslocar.

Emissão de poluentes

Além de não terem custo, a bicicleta e o pedestre não emitem poluentes. Com o apoio técnico do Idesam, quantificamos a emissão de gás carbônico (CO2) do carro, moto e transporte coletivo, gás que está associado ao aquecimento global. O carro emitiu entre 0,73 a 0,95 kg de CO2 para percorrer os 4,3 km do desafio, enquanto que a moto emitiu cerca de 0,32 kg de CO2. O transporte coletivo, com uma lotação de 30 passageiros, emitiu 0,08 kg de CO2 per capita. É importante ressaltar que caso o carro e a moto transportem mais de um passageiro, a emissão per capita deve ser proporcional ao número de pessoas transportadas.

Perspectivas

Infelizmente, o transporte coletivo que transporta atualmente o maior número de pessoas diariamente em Manaus foi o modal com pior desempenho e o mais caro, sem falar da saturação absurda que se encontram os ônibus na cidade. Nos horários de picos é praticamente impossível entrar nos ônibus, que transbordam passageiros pelas portas de entrada e saída. E esse problema não será solucionado apenas pela entrada de novos ônibus na frota, como foi feito recentemente em Manaus. O resultado do II Desafio Intermodal foi bastante interessante e mostra que para distâncias pequenas (cerca de 5 a 10 km) a bicicleta é uma excelente opção de transporte. Uma bicicleta ocupa cerca de 10 vezes menos espaço que um carro no trânsito. O baixo tempo de deslocamento, assim como nenhuma emissão de poluentes e grande economia ilustram muito bem os benefícios de adotar a bicicleta como meio de transporte, mas é necessário que os governantes invistam em melhorias na infraestrutura urbana na forma de ciclovias e ciclofaixas para aumentar a segurança e conforto dos ciclistas.

Como exercício, vamos imaginar um cidadão que mora a 5 km do seu trabalho e se desloca de ônibus (algo que a maior parte da população manauara faz diariamente). Considerando o preço do ônibus convencional a R$ 2,25, ele gastaria R$ 90,00 por mês e cerca de 30 horas para ir e voltar de casa ao trabalho, sendo o tempo de deslocamento de 45 minutos por trecho, um valor bastante otimista. Se esse cidadão escolhesse a bicicleta como meio de transporte, ele economizaria cerca de 1 hora por dia e até 20 horas por mês, tempo que poderia estar com sua família, amigos ou fazer qualquer outra atividade. Caso ele ainda não tenha uma bicicleta, ele poderia comprar uma por cerca de R$ 500,00, um valor que seria compensado economizando a passagem em 5 meses e meio de transporte coletivo. Assim, além de contribuir para reduzir o trânsito, investir na popularização da bicicleta ajudaria a reduzir a sobrecarga do sistema de transporte coletivo e melhoraria a qualidade de vida de boa parte da população.

Agradecimentos

  • Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam)
  • Rede Amazônica
  • A Crítica
  • Cicero Cassiano
  • Fabiano da Costa Soares
  • Fabricio Almeida
  • Felipe Rossoni
  • Fernando Figueiredo
  • Flavia Pezzini
  • Marcio Etiane
  • Mateus Conceição
  • Newton Alves Monteiro Filho
  • Nory Daniel Erazo
  • Paulo Aguiar
  • Ricardo Braga Neto
  • Ricardo Romero
  • Tiago Oliveira