Estamos envolvidos com um movimento que não para de crescer e que busca fomentar o uso da bicicleta como alternativa de transporte, lazer e esporte. Alternativa esta que é sustentável, saudável, econômica e democrática. E todos têm um papel a cumprir.

Por Simone Russo

Nesse contexto o Pedala Manaus é um instrumento por meio do qual levantamos essa bandeira e nos colocamos nas ruas da cidade. Vemos que a cada semana mais e mais ciclistas novos se juntam ao movimento e destes, a maioria retorna para outros passeios e adere à ideia, engrossando nossa voz.

Tudo muito bonito e simples até aí. Mas como tudo tem pelo menos mais um lado, outras questões vêm se colocando no nosso dia-a-dia. Podemos começar lembrando de que não é nenhuma novidade e é a primeira e maior dificuldade com a qual nos deparamos. Nossa Manaus, cidade linda e de povo acolhedor, não está preparada pra receber as centenas de bicicletas que hoje estão nas ruas. Muito ao contrário, nossa cidade tem se desenvolvido em torno dos carros e não das pessoas. Vale lembrar que é muito difícil encontrarmos vias em que podemos caminhar com segurança por falta de calçadas adequadas, o que pensar então de pedalar.

Chegamos então a um ponto crucial – a educação de nossos motoristas. Pedalando nas vias públicas, local garantido por lei pras bicicletas estarem, assistimos a toda falta de respeito e consideração com quem está no trânsito numa condição de fragilidade, de desproteção, dos ciclistas e pedestres. Vale lembrar, que o trânsito é tão somente uma extensão da pessoa que somos, assim não falta somente educação de trânsito, mas sim educação de berço. No entanto, pra não ser injusta, pedalando nas ruas também encontramos alguns raros motoristas extremamente simpáticos e cuidadosos.

Como podem perceber, minha narrativa mudou e agora estou falando das dificuldades do ciclista urbano em Manaus. Mas ainda não é esse o ponto a que quero chegar. Todas as semanas, antes das nossas tradicionais pedaladas, um coordenador do Movimento, do alto no nosso querido banquinho no Parque dos Bilhares, fala sobre a rota da noite e sobre as regras básicas para pedalarmos com o máximo de segurança. E é sobre esse ponto que quero chamar a atenção.

A toda semana são passadas as mesmas orientações e a maioria dos participantes atende e nos ajuda a manter um mínimo de ordem necessária para pedalarmos num grupo de 300 ciclistas em média, ajudando, imensamente, nosso grupo de coordenadores e monitores. Contudo, a cada semana nos deparamos com outros participantes que não atendem a essas regras de segurança, aliás parecem não ouvi-las, e com isso colocam em risco a todos os que estão nos passeios.

O que pretendo aqui então é chamar nossa atenção para a nossa responsabilidade, o nosso compromisso e o nosso dever de acolher às instruções. Reclamamos muito da falta de infraestrutura e dos motoristas, mas não podemos esquecer que somos, nós, a novidade. Todo o resto já estava aí e os estranhos somos nós.

Essa realidade aumenta ainda mais nossa responsabilidade com a situação, pois como esperamos ser respeitados e compreendidos se nosso comportamento vai na direção do desrespeito e da mesma falta de educação a que me referi há pouco? Os motoristas e as vias não estão preparados e acostumados com nossa presença, e somos nós quem temos de nos impor e sermos respeitados. E isso se dá, principalmente, pelo exemplo.

Podemos observar que, com o tempo, os ciclistas se tornam mais seguros nas vias públicas e com isso, alguns de nós resolvemos adotar uma forma de pedalar ousada e arriscada. Todos sabem que nosso lugar é à direita da via e na mesma direção do fluxo, nunca na contramão; que não devemos ultrapassar automóveis de passeio e ônibus pela esquerda; que devemos pedalar, no máximo, em fila dupla; que devemos obedecer aos sinais de trânsito, entre outras regras básicas. Contudo, toda semana lá estamos nós, coordenadores e monitores repetindo isso e às vezes pras mesmas pessoas.

Diante disso, o que quero enfatizar é que a nossa responsabilidade individual quando estamos utilizando uma bicicleta é a mesma de quando usamos um carro ou uma moto, ou seja, temos que cuidar da nossa segurança e de quem está no trânsito, seja motorizado ou a pé. Mas isso tem ainda um agravante: nós somos os estranhos, os diferentes, a novidade, e isso só aumenta nosso compromisso com o respeito às regras de trânsito.

Todos são muito bem-vindos aos passeios, mas é fundamental que cada um assuma seu papel quando estiver no grupo. É óbvio que cada um vai fazer o que sua consciência determinar, mas que aqueles que quiserem pedalar sem observar a segurança do grupo, que o faça em outro momento, de forma individual, onde, aí sim, cada um responde somente por si.

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*Simone Russo é coordenadora do Pedala Manaus

**Arte de Reynaldo Berto Paulo